SEDE W3HAUS + HUIA PORTO ALEGRE

Tipo: Projeto de Arquitetura de Interiores
Ano: 2017/2018
Localização: Porto Alegre, RS, Brasil
Área: 435 m²
Status: Obra concluída
Equipe: Projeto Arq. Marta Kessler e Arq. Paula Arnold / Projeto final e execução: Arq. Marta Kessler
Fotos: Julia Saldanha

Um desafio fascinante: reestruturar três pavimentos em desuso de uma edificação centenária para receber uma agência de publicidade e produtora digital cheia de energia. A empresa nos procurou querendo deixar o andar inteiro em prédio corporativo que ocupava, com o qual pouco se identificavam, e mudar-se para a casa histórica, que hoje é um dos principais complexos criativos da cidade, em espaços anteriormente ocupados por uma produtora de vídeo.

A situação era um andar térreo com pé-direito de 4m, completamente revestido com gesso acartonado e tecido preto internamente e com janelas encobertas era um estúdio de gravação. Abaixo dele, com altura livre bastante reduzida, um pavimento semienterrado, antigamente ocupado por depósitos, camarins e cozinha.

A empresa se subdivide internamente em agência de publicidade, a w3haus, e produtora digital, a Huia. O zoneamento do projeto, em função das necessidades espaciais de cada uma, propôs a instalação da agência no térreo e da produtora e setor administrativo de ambas no subsolo. Logo ao final das obras nesses dois pavimentos, a empresa cresceu novamente e precisava de mais espaço. Com a desocupação de uma unidade imediatamente acima, no segundo pavimento da edificação, o projeto agregou mais uma área de escritórios e a agência ganhou mais 28 postos de trabalho, com previsão de ainda 8 adicionais. O projeto e obra, então abrangeram finalmente 3 pavimentos do edifício, conectados por uma escada interna, e totalizam uma capacidade de 143 pessoas.

A preocupação principal na elaboração do projeto foi não apenas preservar a edificação histórica, mas também valorizá-la, fazendo-a assumir o papel de protagonista. Nenhuma alteração estrutural foi realizada e todas as instalações foram executadas aparentes, de modo a sequer cortar as paredes originais. Após a remoção de todos os revestimentos internos do antigo estúdio, optou-se por deixar à mostra os tijolos maciços originais das fachadas externas da construção. No piso do mesmo espaço, as diversas camadas de revestimentos presentes demonstravam quase uma linha do tempo dos usos pelos quais passou o lugar ao longo de sua existência, e com sua retirada veio uma incrível e feliz descoberta: ladrilhos hidráulicos originais, que, após um delicado processo de lixação para eliminação de cola, puderam voltar à superfície. No subsolo, as espessas paredes de pedra haviam sido pintadas pelos usos anteriores, e foram agora descascadas e expostas cruas.

Dentro da casca formada por tantos planos com texturas ricas e preservadas, desenvolveu-se o projeto, de linguagem contemporânea e tendo em vista sempre a funcionalidade. O acesso principal, localizado no térreo, inclui recepção e extenso armário com lockers para a equipe. Ao contrário da área de escritórios, que conta com grandes janelas, este trecho não tem iluminação natural direta, e por isso a interface entre esses dois ambientes é totalmente envidraçada. Uma grande parede verde emoldura o logo da empresa, visível desde a circulação comum do edifício. Duas pequenas salas de reunião, de tamanho idêntico, ocupam o restante deste trecho da planta, uma voltada à recepção e outra com acesso pelo lado oposto

A área de produção tinha o desafio de acomodar uma quantidade muito grande de pessoas sem que isso se tornasse repetitivo ou monótono. A proposta foi distribuir mesas modulares lineares – desenhadas pelo próprio escritório de arquitetura, com calha interna para cabeamentos – frente a frente, com uso bastante racional do espaço, e dois tablados de madeira que setorizassem um grupo de mesas e um lounge central. O mobiliário adotado deveria ter perfil sofisticado, mas jamais convencional. A escolha foi uma mistura de poltronas que são clássicos do design com mobiliário contemporâneo de aço e madeira, destacando três balanços usados como assentos. A área de fundos, mais resguardada, foi dividida em sala de reuniões e sala dos diretores.

No segundo andar da agência, um ambiente linear cumpre funções de acesso, estar para reuniões informais e pequena copa. Piso de grama sintética, divisória produzida com fios coloridos e poltronas vermelhas evidenciam o caráter informal dessa área da agência, que conta com duas zonas de produção com mesas lineares e a sala de reuniões principal. Há neste pavimento uma área prevista para receber mesas adicionais conforme o crescimento da empresa, e por isso optou-se por mobiliário solto e leve, como o estar com bancos Cobogó, também de autoria do Maxma.

No subsolo, no trecho que tem acesso direto a partir da circulação central da edificação, distribuem-se os escritórios da produtora digital. O pedido foi um caráter bastante mais sóbrio e tecnológico que a agência de publicidade, portanto adotou-se uma linguagem contemporânea e industrial, com os materiais puros aço, madeira e vidro. A partir das paredes de pedra originais, piso de cimento queimado e teto de laje de concreto pintada, o mobiliário adotado valorizou madeiras naturais. Mesas coletivas e lineares reaproveitadas e reformadas da sede anterior organizam a área de produção, e, separadas por vidros, setorizam-se sala de reunião e sala do diretor. Logo à frente do acesso, como barreira visual para as mesas posicionadas diretamente à frente, estende-se um painel de chapa de aço expandida, que divide com um grande armário de lockers a condução à circulação que leva até a escada interna.

O módulo da circulação vertical interna articula também o acesso à zona administrativa e de TI da empresa e acesso externo aos fundos da edificação. A administração conta com dois ambientes de escritórios e uma sala de reuniões, e a área de tecnologia da informação, escritório-oficina e um datacenter. Com as mesmas paredes de pedra do restante do pavimento e divisórias de vidro, configuram-se os discretos espaços com mesas coletivas de madeira.

A iluminação de todo o projeto foi proposta em perfis lineares que percorrem os espaços e carregam duas fontes distintas de lâmpadas tubulares de tom neutro, para luz difusa e geral, e spots direcionáveis para efeito pontual e bastante cênico no contexto. A possibilidade de uso dos dois sistemas, isolados ou combinados, garante a flexibilidade na iluminação para diferentes situações de entrada de luz natural e de tipo de atividade desenvolvida em cada momento nos espaços. Nas salas de reunião e algumas mesas de trabalho específicas, pendentes localizados complementam o sistema.